Hoje foi um daqueles
dias em que você acorda cedo demais, tão cedo que ainda é noite, contudo, já se
pode dar “bom dia”. Depois de tanto relutar com esse terrível e abençoado mal
chamado insônia, depois de me remexer na cama o quanto pude, depois de relutar
pelo sono, de clamar por ele, de choramingar por uns minutos de dormência
consentida, lá estava eu. Acordada a plena quatro e meia da madrugada. Desperta.
Enfrentando o bichão papão dos adultos, de luz acesa, baby-doll rosa bebê, um
xícara de café quente e, uma multidão de ideias e palavras dançando no meu
subconsciente.
Maldita insônia!
Uma única ideia
tomava forma no meio daquele amontoado de letras e códigos que sucumbiram na
minha mente. VIVER É COMO ANDAR DE BICICLETA. Aonde vi essa frase? De quem é
essa frase? E o porquê de ela não sair da minha cabeça? Eu não sei. Acho que a
frase não estar completa, mas não me lembro do final. Então, sou invadida por
uma angústia, como se fosse obrigada a achar a chave de um mistério que não sei
qual é, mas sinto que meu mundo subjetivo precisa dela pra sobreviver.
Insônia maldita!
No entanto, por que
viver é como andar de bicicleta? Bem... o que é preciso para andar de
bicicleta? Equilíbrio? Sim, é preciso de equilíbrio. Mas, porque inferno estou acordada
no meio da noite, melhor, da manhã, por causa dessa frase? Porque a vida
precisa de equilíbrio, e o meu acabou de ser roubado. Espera! Acabou? Não, não,
não. O meu havia sido roubado, horas antes, quando eu me deixei ser atravessada
por aquele discurso estúpido que alguém recitou dizendo que não daria
certo.
Droga! Mas que droga
de equilíbrio é esse que se esvai na primeira tempestade? No primeiro voto
contrário que recebe ele se entrega e diz que realmente estava errado, nunca
daria certo. E agora? Agora eu estou aqui, no meio da madrugada, tentando colar
os frágeis pedaços que sobraram do ataque iminente. Refaço cada passo que havia
dito que era preciso seguir para então, alcançar o sucesso. Faço e refaço. Digo
e repito. Leio e recito. Um por um, estão todos ali, numerados em ordem de
importância e dificuldade, estão todos ali. Os benditos passos para a gente
poder dar certo. Mas, para. Para!
VIVER É COMO ANDAR DE
BICICLETA! Como? Viver é como andar de bicicleta... Sim! Nunca houve manual.
Nunca foi preciso ler um manuscrito, um livro ou um artigo, nada. Não é preciso
decorar as regras, ou recitar um manual. Só é preciso sentar lá, pedalar e olha
pra frente. Ainda lembro quando aprendi a andar de bicicleta, foi isso que me
disseram. Não houve discursos, aulas ou explicações. Primeiro eu implorei para
que não me soltassem, eu ainda não tinha equilíbrio, eu tinha medo de cair.
Depois, eu comecei a pedalar e direcionar a bicicleta sozinha. Então, quando eu
estava no auge da minha sabedoria, quando achava que tinha aprendido tudo, caí.
Sim, caí.
Bendita insônia!
Eu não preciso dessa
folhinha com itens rabiscados. Ninguém precisa. Cada um de nós aprendeu a andar
de bicicleta do nosso jeito, caímos as nossas próprias quedas, arranjamos as
nossas próprias cicatrizes e achamos o nosso próprio jeito de pedalar. Agora, é a hora de pedalarmos lado a lado, mas
para isso também não há regra. Acharemos
o nosso próprio equilíbrio. Claro, iremos cair algumas vezes, mas isso é o
equilíbrio.
O equilíbrio nunca
foi um lugar fixo, não é o PH 7. Não! É saber ser ácido, neutro e base à medida
que a vida nos pede e necessita que sejamos. Como eu não tinha percebido isso
antes? Bendita insônia. O que seria das almas velhas e sensíveis se não
existissem as madrugadas silenciosas e turbulentas.
Sim, viver é como
andar de bicicleta. Espera... espera. Agora lembrei! Viver é como andar de
bicicleta, só é preciso estar em movimento. Pois é... Agora, sentada na poltrona e olhando o sol
invadir a minha sala pela brecha da janela, eu sinto que estou em movimento e,
melhor ainda, eu sinto que poderia pedalar em direção a qualquer lugar, mas,
felizmente, eu só quero um destino...