terça-feira, 29 de outubro de 2013

No fim do dia,

Por que no final da tarde dá mesmo essa vontade de deixar pra lá. Não importa quantas xícaras de café ou taças de vinho que vamos esvaziando quase sem perceber, a noite se aproxima tão pesada e solitária que tenta afundar o que há de concreto em nós.
No fim da tarde estamos tão cansados que só queremos ser acolhidos, procuramos cada lugar pequeno, apertado e escuro onde possamos nos esconder dessa imersão não consentida. Queremos tropeçar e cair, torcendo para que a queda machuque, porque assim poderemos chorar uma dor física e no meio de toda lamentação colocaremos também toda a frustração invisível.
Às vezes, quando o sol vai se pondo, revelamos a parte mais sensível e delicada que possuímos. Somos fracos, cansamos de ser forte. Os discursos outrora escutados com desdém agora nos atravessam como fecha inflamada bem no meio das nossas certezas de concreto. É efeito dominó, colocamos tudo em cheque. Será que vale a pena? Será que vale mesmo a pena?
Por isso mesmo queremos nos esconder, estamos expostos. Estamos indefesos, assustados e sem rumo. Tudo é motivo de dúvida, de se pensar umas duas vezes ou até mais. Não queremos fazer investimento sem fundo, queremos ser fortes. Contudo, estamos cansados de sermos super-heróis. E no fundo não é do mundo que estamos com medo, mas das nossas escolhas, daquilo que não escolhemos e daquilo que queremos.
O engraçado é que no fim do dia acabamos pensando, o mundo é mesmo um sujeitinho egoísta que não se importa com as feridas e confusões da alma humana... Mas, só estamos cansados de ser tão mecânico e impessoal. Não dá pra ser filtro o tempo todo, estamos tão cansados de selecionar o que nos atravessa ou não, mas ser esponja também é assustador.
E é assim que amanhecemos em uma noite afundada em escuridão: cansados, assustados, com as certezas a despencar ladeira abaixo, com uma garrafa de café ou vinho vazia, com a alma inundada em tanta incerteza.
Só não sabemos que no fim da noite poucas coisas terão sobrevivido ao fim de tarde. As certezas de concreto vão mesmo se esvair, é natural. Contudo, as "certezas por um fio" permaneceram intactas, elas podem ser imersas as mais profundas tempestades e avaliações, sempre, e sempre, irão emergir ainda mais fortes e invisíveis.  
E o caminho de casa... Podemos mudar as certezas de lugar, podemos mudar as incertezas de lugar, podemos mudar a casa de lugar, mas jamais esqueceremos o caminho de casa. Jamais nos esqueceremos de quem nos deu abrigo no fim do dia. 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Nasci assim...


O meu verbo é solto pra falar mesmo é de sentimento.
Não sei criar grandes histórias cheias de dragões, princesas presas em torres, cidades em ruínas ou heróis. Todas elas me cansam a escrita, precisam ser minimamente detalhadas, detalhes que não percebo e que desconheço.
Gosto mais quando as palavras brincam como crianças descomprometidas e sem querer acabam dizendo a verdade da vida. Sim, verdades. Delicio-me principalmente com as verdades ocultas, com o que não está dito diretamente, mas indiretamente foi declarado com clareza e sutilidade.
Carrego comigo uma sensibilidade oculta, que por vezes me machuca e me despreza, mas que ama as coisas subjetivas da vida. Ama o que está por trás do que foi dito e ama ainda mais a conversação do silêncio.
Se tiver de carregar o fardo das palavras, que seja então sobre aquilo de que sou feita. Que se escreva sobre os dias de chuva, sobre as gargalhadas bem dadas... Por que não falar de decisões tomadas às pressas, de amores errantes, de cotidiano, de planos, de textos que li e de pessoas que não sei quem são, mas nunca esqueci? Por que negar que amo essa monotonia chamada vida, que sou apaixonada pelas infinitas possibilidades da alma humana? Suas certezas, suas verdades mesquinhas, seus amores eternos que duram semanas, suas paixões vulcânicas que duram uma vida, seus destinos cruzados, seus sorrisos e suas lástimas...
Nasci assim...
Amo tudo que é subjetivo. Amo mesmo, de verdade. Tudo que cruza a linha do invisível aos olhos, mas que é concreto nas medidas da alma - se é que há medida para a alma, duvido muito que exista - me fascina.
Tenho, sim, tenho sempre comigo grandes histórias, mas de pessoas que aparentemente são simples e comuns, vou contando-lhes aos poucos. Uma de cada vez, na medida em que forem sendo necessárias e exigidas. Quando não tiver uma história, terei então uma prosa ligeiramente doce, baseada em histórias supostamente comuns. Ou quem sabe fale de mim, do que carrego comigo, pode ser um medo infantil, uma necessidade urgente, uma aventura, uma descoberta, um amigo... Ou quem sabe fale da saudade, afinal é ela que tem me preenchido esses dias.
Contudo, o fato é: nasci mesmo foi pra falar de sentimento... 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

...

É nessas noites frias e (  ),
Que a poesia me ar r e   d    a  o pé,
O céu tão sereno quer ter um ter    mo       de calmaria,
                                                           re        to 
A saudade tão saturada ameaça   E   R.    I
                                                           X    P      D 
                                                                   L      O         

- D. Andrade