O sol começava a se por, o céu já havia
abandonado a calmaria azulada e tomava forma num vermelho tempestuoso, o
vento soprava calmo e sereno. Quando o vento passava assanhava seus cachos
castanhos, mas ela não estava tão preocupada com isso agora, tinha lido em
algum lugar que isso fazia parte do cenário e, de alguma forma, a tornaria mais
bonita.
Estavam há horas sentados ali, conversando sobre
o céu, rindo do passado e brincando de inventar o futuro. Contudo, não tinham
coragem de falar no presente, de decidir o agora e, ambos, continuavam ali.
Preocupados com o futuro... O futuro de um
futuro relacionamento. As implicações e responsabilidades de um “sim”. Que se
gostavam? Disso não havia dúvida. Mas e se não fosse suficiente? E se não
soubessem o que fazer com o que sentiam? Se estragassem tudo? Ou, melhor, se
fosse impossível um futuro relacionamento?
Ele ouvia cada palavra que ela dizia, como se
estivesse com medo de perder algo e tudo era precioso demais para ficar perdido
no ar. Como podia? Tudo o que se mais quer é o que mais lhe causa medo? Ela
sorriu e, só por ela ter sorrido ele sorriu também. Ela estava falando há um
tempo, mas não tinha problema porque ele gostava da sua voz.
A certeza de que o outro seria capaz de lhe
compreender os segredos mais profundos pertencia aos dois, mas ninguém falava
nada por medo de que ele ou ela se afastasse com medo. E por causa do medo
ninguém fazia ou dizia, permaneciam reféns do silêncio.
Mal sabiam eles que já estavam em um
relacionamento, sem cobranças, sem exigências, sem insultos, sem obrigações. Contudo,
eles tinham embarcado por acaso, amor ou destino... eles tinham embarcado no mesmo trem. Que
coisa, não? E o medo... o medo não era de seguir em frente, mas de perder o que
tinham, de transformar a magia em obrigações supérfluas que sepultariam o amor.
Às vezes, tornamos o amor uma coisa tão
grandiosa que ele acaba por ser também inalcançável. O amor exige coragem, não
o que o senso comum acostumou-se a chamar de coragem, não é de se armar que o
amor precisa, mas, simplesmente, de se desarmar.
O futuro de um relacionamento, por incrível que
pareça, não está no amanhã. O amor caminha de mãos dadas com o presente.
Enlaçado com o respeito, confidente da empatia, amigo fiel da sinceridade,
amante leal do bom humor, mas de mãos dadas com o presente.
É possível declarar o amor e não encher o outro
de exigências, mas deixar o outro se encaixar e preencher o nosso vazio por
livre e espontânea vontade.
Bem, como foi o fim da tarde, ou se eles foram
corajosos o suficiente, eu não sei. Algumas histórias não merecem ter um único
final, por isso deixo essa lacuna em aberta. O fato é que eu, realmente, espero
que sim, que o amor seja declarado e vivenciado. Eles mereciam.
P.S.: Se alguns soubessem o quão raro é o
amor, não seriam tão cautelosos em vivenciá-lo. Algumas oportunidades são
únicas.