terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Vontade de você



Ei, me diz o que eu faço com essa vontade de te ligar na madrugada?
Com esse desejo de ter você por perto?                                                                 
Com essa necessidade de te contar da minha vida?                                      
Com essa esperança de que você lembre que estou aqui?                             
Vai, me fala?

Foi você que plantou esse sentimento aqui, dentro de mim.

Tenho vontade de te desejar um bom dia, de saber como foi seu dia, de rir com você das injustiças dessa vidinha tua.                                                         
Vai... me fala?                                                                                                     
Ai, ai, ai.
Eu te disse que isso tudo é uma bagunça, mas e daí?

A semente já foi plantada e germinou.
Pela manhã, eu vejo os galhos da saudade, eles balançam na minha janela e me acordam lembrando você.                                                                           
Ah, você me bagunçou, e essa foi a melhor coisa que você conseguiu fazer. 
Vem... não me deixe ser poeta da solidão, eu quero falar de nós dois, e de tudo isso.

Tudo bem.

Ser poeta é tudo isso, é falar de um amor que é só meu, é escancarar o sentimento seu, e bagunçar tudo em uma poesia nossa.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Simples assim...

"Escrevo, não só porque gosto.
Mas, porque preciso.
Afinal, para escrever só é preciso do silêncio e da alma." 
D. Andrade

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Não sei




Esses dias eu reparei na quantidade de vezes em que digo: "Não sei". Chega a ser um absurdo, um exagero. Volta e meia, lá estou respondendo o bendito "não sei". Eu diria que isso, às vezes, é questão de hábito.
O problema desse meu costume indecente é que o meu querido "não sei" não é a resposta para uma pergunta como: Qual bolo você prefere, o de chocolate ou o bolo mole?
A minha eterna teimosia de pronunciar que não compreendo ou não entendo o que se passa, é tudo uma mentira ordinária. Uma fuga repentina do mundo cruel das indagações, uma pausa na memória, uma distração ariscada, a minha melhor forma de explicar tudo:... "Não sei".
Pergunte-me como eu estou, e a resposta será: bem. Vá um pouquinho mais a fundo, pois é... já encontrou com a minha indecisão decididamente ensaiada, não é?
Por que quando tudo é difícil demais de ser explicado, quando eu não sei se consigo explicitar a realidade, eu digo: "não sei". Se os meus sentimentos são um tanto confusos, ou até mesmo quando não o são, eu digo que não compreendo. Vivo teimando em recitar meu pequeno poema particular de duas palavras: "Não sei"...
A verdade é que minha mentira descarada é só o equipamento que, por algumas vezes, me mantem viva. Afinal, esse tal de "não sei" sabe de tanta coisa.
O “Não sei” sabe o por quê de as lágrimas rolarem, a razão de certos sorrisos, o motivo de certas saudades, a causa de algumas decisões, o fundamento de tantos abraços, o pretexto de certas mensagens, a finalidade de algumas ações, a justificativa de alguns medos e, principalmente, a alegação desse amontoado de sonhos.
Um "não sei" que sabe mais que uma enciclopédia gigante. Um "não sei" que diz tanto! Um "não sei" que desabafa tanto, mesmo sem dizer nada! Um suspiro particular de alívio, porque a cada "não sei" que eu insisto em repetir, eu estou escancarando a verdade, só que em oculto. É possível?
Por vezes, tudo que quero é dialogar, uma tarde inteira, sobre um único "Não sei"... Pode ser qualquer um deles. Pode ser o que eu usei para responder a respeito de um amigo. Pode ser aquele que eu escolhi na hora de falar sobre o amor; ou até mesmo o que eu sempre digo quando falo do futuro: "Não sei".
"Não sei"... O (meu) "não sei". Ele sabe muito, portanto, entenda que, na maioria das vezes, tudo que eu vou ter é uma certeza imensa da realidade, uma clareza profunda de tudo, mas encapada com essa confusão dissimulada, e isso será o suficiente! Mas, de vez em quando, só às vezes, eu vou ter um “Não sei” pedindo para ser descoberto.  


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Obrigada...


Conhecer pessoas é como abrir presentes, tem todo o ar de surpresa, o momento. Muitas vezes, os presentes só são dados em momentos especiais. Contudo, o melhor presente é aquele que vem em uma hora não esperada, mas que marca e alegra. E como se não bastasse receber algo num momento inesperado, é ainda melhor quando o presente faz justiça a toda expectativa de abri-lo.
Eu não consigo lembrar-me quando o vi pela primeira vez, nem mesmo o instante em que começamos a conversar. Sinceramente, grande parte do que lembro refere-se a alguém sentando ao meu lado tentando, com uma paciência de Jó, me ensinar a jogar Age. 
Sim, foi um presente inesperado.
Honestamente, eu ainda não conheço o muito, eu diria que ele não fala muito de si, tem um certo ar de mistério, mas vou me arriscar um pouco.
Ele é uma das poucas pessoas que conheci que consegue conciliar maturidade com o espirito jovial de acreditar que o mundo não é só físico. Algumas pessoas que conheci, quando se tornaram maduras e vividas perderam a magia que todo ser humano carrega consigo, tornaram-se secas e desgostosas. Ele não. Ele aprendeu a conciliar prudência com “jovialidade”.
Contudo, melhor do que ganhar presentes é ganhar pessoas, porque presentes são finitos, já as pessoas são infinitas, elas são caixinhas de surpresas que quanto mais se tira da caixa mais se descobre. E uma das poucas coisas que descobri sobre ele é que, ele se preocupa com o outro, ás vezes mais do que deveria, ou melhor, ele se interessa pela necessidade do outro de uma forma que poucos conseguem.
Agora, a minha maior surpresa foi descobrir que além de uma grande pessoa, e um bom amigo, ele é um ótimo corretor ortográfico. Pois é... Muito obrigada.
Obrigada, porque pessoas que conhecem a gramática existem em muitos lugares, mas alguém disposto a colocar as vírgulas certas sem atropelar ou modificar o que estar sendo dito, simplesmente querendo melhorar o pensamento ou até mesmo completa-lo, e isso não vale só para os meus textos ou pra mim, são extremamente raras. Ah...  e obrigada por puxar o meu saco de vez em quando...
Obrigada, porque além de um ótimo corretor, ele é um dos meus melhores leitores, não se contenta em somente ler, mas viaja em cada palavra que digo e percebe até mesmo o que está escondido nas entre linhas.
            Eu espero, sinceramente, que ele esteja sempre cercado por pessoas dispostas a ajudar o outro assim com ele. Afinal, a tarefa de cuidar e se importar com alguém é com toda a certeza um dos fardos mais pesados.
Bem, como eu já disse, eu não sei falar muito dele, mas eu garanto que se for pra conversar pode contar com ele, se for pra jogar Age também pode contar ele. Mas, se for pra corrigir textos, pois é também pode contar com ele.
Desejo-o muita felicidade e, principalmente, que Deus te abençoe sempre.

P.S.: Na vida, de nada adianta saber o que dizer ou a quem dizer se não soubermos de que forma dizer. E é ai que surgem as vírgulas, os pontos, as interrogações, que precisam ser cautelosamente bem colocados, a fim de que a mensagem principal não seja corrompida com a bagunça que é os sentimentos humanos.
P.S’: Você ainda me deve um texto seu. E sinto muito pelos erros ortográficos, era de extrema necessidade que você olhasse primeiro que o meu corretor.

D. Andrade

Relator anônimo..


O sol está quente, esse clima de verão parece gritar às pessoas para que aproveitem o dia, e eu estou aqui, parado na areia branca e limpa que parece refletir os raios do sol. De vez em quando a brisa do mar sopra no meu rosto e refresca a minha alma.  É difícil dizer o quanto amo o mar, então, como a muito não fazia, resolvi passear por aqui na tentativa de esquecer a minha profissão, ou melhor, de parar de observar por alguns instantes.
E antes que você, Leitor, pergunte-se quem eu sou, digo-lhe que:
- Eu sou o Narrador. Sim, o Narrador.
Sabe Leitor, é especial a forma que nos conhecemos. Eu estou sempre narrando, narrando, e você aí lendo e lendo. Nunca trocamos palavras, mas é extraordinário conversar com você.
Só um momento Leitor... Preciso deixar que um casal de idosos passem, eu estou no meio do seu caminho. É fascinante olhar as pessoas passarem, por exemplo, esse casal de idosos, eles estão caminhando aqui à beira da praia, parecem felizes, parecem se amar intensamente, parecem viver o hoje. O confuso é o fato de, a maioria de nós deixarmos para viver o amanhã.  Amanhã eu pedirei perdão, amanhã eu direi a alguém que estou amando, amanhã farei aquilo que sempre quis, amanhã serei feliz.
Pronto. Eles já foram. E como eu ia dizendo, eu estou sempre contando histórias, mas e o Leitor? Ele se pergunta se elas são realmente verdadeiras? Alguma vez você se perguntou se eu realmente conhecia alguma personagem? Não é esquisito? O Narrador conhece todas as pessoas profundamente, a tal ponto, que ele é capaz de discorrer sobre cada uma das personagens?
São perguntas, muitas perguntas. Preciso caminhar um pouco. Não sei em qual direção eu vou, acho que eu deveria caminhar em direção as dunas, será? Sim. Lá o ambiente é sereno.
No caminho eu vejo outras pessoas passarem, não olho, não quero observar, não agora enquanto conversamos, seria indelicado com você, Leitor.  A brisa do mar acabou de soprar, como é delicioso sentir o cheiro da água salgada, a linha do horizonte, a infinidade do mar... E as perguntas. Interessante: não saber o que o Leitor pensa é tempestuosamente relaxante, mas saber o que o Leitor acha me consola.
Agora estou ainda mais perto das dunas, espera, há alguém próximo a mim, na verdade são dois, duas pessoas. Aqui, no lugar em que parei, é possível ver uma mulher, ela é alta, magra, pele clara, possui os cabelos negros e ondulados, olhos castanhos marcantes. Bárbara, esse é o seu nome. Bárbara está correndo e brincando na areia da praia como se fosse uma criança, sorrisos ao vento, cabelos soltos e esvoaçantes, o seu vestido bege de renda está marcado por algumas gotas d’água que lhe foram jogadas. Porém, nem mesmo o vestido manchado, nem os seus pés descalços deixam-na desarrumada, ao contrário, eles estão para Bárbara assim como a coroa está para a sua rainha.
Ao seu lado é possível ver o rapaz, alto, pardo, cabelos castanhos, o queixo quadrado e olhos azuis escuros. Ele também está correndo e brincando, parece até a cena de um filme qualquer que assisti. Miguel está apaixonado por Bárbara, os seus olhos confessam esse amor, o modo como sorri, ao vê-la brincar na água, a felicidade que o toma quando ele a envolveu em seus braços, as suas pupilas cintilam ao encontrar com os olhos de Bárbara. O infinito está ao lado dos dois, a eternidade se reserva para eles.
E veja só, eu já estou dando uma de Narrador novamente. Por quê? Leitor, porque não impediu? Por que permitiu que eu continuasse a contar histórias e a narrar fatos e momentos?
Os dois permanecem lá, brincando, sorrindo, caindo, levantando, e se molhando com a infindável ternura do amor. O sol começa a se por no horizonte, acho que é a hora de eu ir andando, vim na expectativa de descansar e continuo narrando, narrando.  Tenho realmente que ir, já gastei muito do meu tempo e as voltas do ponteiro do relógio tem me custado muito. Aguarde um momento Leitor...
...
Só mais um momento...
Miguel tomou uma decisão, uma grandiosa decisão.
Bárbara está de pé, de onde estou sou capaz de perceber seu rosto de perfil sendo iluminado, iluminado pelos raios do sol que começam a sumir. Ela está radiante, surpresa, admirada, Miguel havia tomado uma decisão, ele havia tomado uma decisão, o grande amor da sua vida havia tomado uma decisão.
Não era necessário pensar mais nem um minuto, a resposta era sim.
Bárbara olhou para Miguel ajoelhado na areia da praia, sorrindo, ela ainda não sabia de que forma aquele anel tinha aparecido em suas mãos, mas juntamente com aquele anel veio o precioso convite:
-Não te convido a dividir comigo todos os dias da sua vida, mas se você estiver interessada poderemos compartilhar a eternidade, aceita?
Não me contive, e dos meus olhos brotaram as lágrimas do encantamento, que sorte, hein, Leitor. Juntos, vivenciamos uma união para a eternidade. No entanto, seria grosseiro da minha parte se eu não lhe explicasse o motivo de minha intensa emoção.
Claro, o amor comove todos os corações, o amor aviva todo ser, encanta qualquer alma, porém as minhas lágrimas de emoção se deram pela coragem. Coragem em partilhar com o outro a eternidade, coragem em não se preocupar com a responsabilidade desse convite, coragem em assumir a necessidade de ser completado pelo outro, coragem de viver o hoje, coragem de ter coragem de encarar o amanhã. Coragem, Leitor.
Não é fascinante, Leitor, como as pessoas facilitam e fazem com que o momento aconteça, fazem com que dê certo. Basta elas estarem dispostas a fazê-lo para que a magia aconteça, e no reluzir das luzes tudo se torna real.
Bárbara não saberia descrever o que sentia, aquilo era mágico demais para ser real, ou será real demais para ser mágico? De qualquer forma ela respondeu:
- Sim. E que venha a eternidade.
Mais uma vez não me contive. A eternidade, Leitor, a eternidade.
Nesse momento as minhas lágrimas caíram com tanta intensidade que um garotinho que já havia se aproximado faz tempo, desculpe não ter falado sobre ele, Leitor, estive envolvido demais com o desenrolar dos fatos que acabei por esquecer que o garotinho havia se aproximado, pois bem, o garotinho perguntou-me:
-Você é amigo dos dois?
Tão brandamente respondi:
-Não. Eu sou, apenas... o narrador. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Muralha de Concreto



Estou rasgando minha carne, posso ver o sangue saltar de minha pele. Estou remoendo cada parte de mim. Estou perto o suficiente para ver minhas camadas de tecidos se desfazerem nas palmas das minhas mãos.  O sangue continua escorrendo, no momento que corre nas minhas veias é vida, quando escorre por entre os dedos é só sangue.
Agora já posso ver aquilo que me mantém vivo, ele palpita como se o mundo fosse feito só dele. Uma máquina feita de carne e sangue, mas diferente de todo o resto que também se compõem desses ingredientes, ele é mecânico, nada no mundo importa, só o seu batimento, porque o mundo só existe se ele palpitar. E sem perguntar absolutamente nada, ele altera meu ritmo, quase desfalecendo, quase explodindo. Uma máquina independente cujo combustível é a vida e que me mantém vivo.
E é aqui, quando posso vê-lo, que quero encontrar com a minha alma. Não importa o sangue, não importa a pele rasgada. Essa busca é maior do que tudo. Eu sei, eu sei... Eu poderia procurá-la em uma lágrima, eu poderia tê-la encontrado em um sorriso, eu sei! Mas, não, não! É aqui que eu quero encontrá-la, aonde me mantém vivo, é aqui que devo encontrá-la.
Finalmente estamos face a face. Só então percebo o quanto sangrei, o quanto dói. Essa dor me dilacera, é como se eu estivesse me partindo ao meio, é como se eu não pudesse fazer nada além de observar enquanto a outra metade de mim se separa, lentamente, daquilo que um dia foi um só corpo.
Ela acabou de me saudar com um olhar afetuoso e perguntou-me como estou. Como ela poderia ser tão cruel, eu havia me despedaçado, eu estava sangrando, eu estava consumida, ela poderia, ao menos, apiedar-se de mim.
Não há razões para ironias, eu sou parte de você e você é o meu arcabouço, seja sincera comigo... porque, se você, minha alma, não puder ser sincera, a minha dor será como uma chaga mortal, que se apoderará de mim, lentamente, e por fim irá me definhar, como alguém que guarda a melhor parte do bolo para saborear por último.
Eu estou vazia de mim, vazia de sonhos, vazia de sinceridade, vazia de amores, vazia de esperança, vazia de vida, vazia de saudade, vazia de acreditar, vazia de futuro, vazia de presente, vazia de passado, vazia de alguém, vazia de coragem, vazia de autoconfiança, vazia de defesas, vazia de vazio, vazia de viagens, vazia de compreender, vazia de ouvir, vazia... Vazia de olhar, vazia de pupilas me encarando. Vazia... Vazia de você, minha alma.
Até mesmo a menor espetada da agulha me faz sentir-me ainda mais vulnerável, me sinto como uma máquina que só responde aos comandos que são acionados. Sinto-me tão mecânica quanto aquele que mantém viva, só que sem o palpitar certo, sem o ritmo certo.
Ela me sorriu amigavelmente outra vez.
Quando ia explodir de repugnância, ela me tocou, tocou-me no exato local em que a minha maquina de existência palpitava, eu congelaria esse segundo para sempre. Ao seu toque, minha dor se esvaiu, cessou. No entanto, ela começou a remexer dentro de mim a procura de algo. Nesse momento tive vontade de vomitar, fiquei enjoada, irritada, como ela ousaria remexer-me como se eu fosse uma amontoado de papeis dentro de uma gaveta qualquer.
Quando finalmente ela encontrou, tirou de dentro de mim suas mãos, a dor me despedaçou, queria gritar, gritar e gritar. Foi quando vi que nas palmas das suas mãos havia algo, algo que poderia ser comparado com uma cidade cercada por uma muralha espessa, grossa, de concreto, a cidade estava segura.
Porém, aquilo estava longe de ser uma cidade. Era um amontoado de sentimentos, sorrisos, esperança, lágrimas, paixões, amores, compreensão, revoltas, perdão, raivas, sonhos, medos, coragem, saudades, futuros, pupilas, todos cercados por uma muralha inatingível. Limpo e seco. Ela me disse:
-Você criou um lugar seguro para si, e lá você tem guardado tudo que considera importante: seus sentimentos mais puros com medo de se magoar, suas raivas mais profundas com medo de gritar, seu perdão mais sincero por achar que ele não mudaria nada, seu amor mais eterno por achar que ele é imaturo demais para ser confessado, suas mágoas por considerar-se inatingível. E, acredite, você tem sido inatingível. Nós fomos inatingíveis, mas isso a deixou vazia. Vazia de si mesma, porque você se protegeu até de você.
Nesse instante, minha dor física era inexistente comparada ao meu choque de realidade. Ela continuou:
-Só há um meio de ser cheia e transbordante de novo, e para que isso aconteça levará tempo, não será preciso derrubar a muralha por inteiro, não. Essa estrutura física e sólida que você construiu é a base de muitos outros edifícios, será preciso transformá-la em colunas. Sim, colunas. Por oras você irar construir colunas desnecessárias, será preciso derruba-las. Por oras você não irar construir colunas necessárias, alguns edifícios irão desabar, reedifique-os. Por oras será preciso construir paredes, e se por acaso elas interromperem a passagem, construa portas, elas não precisam ser inteiramente seguras, em algum momento também será preciso arrombá-las. Saiba, será um trabalho árduo [tijolo por tijolo] e que será possível aproveitar alguns tijolos da muralha, mas não aproveite tudo. Será um trabalho solitário, mas não precisa ser melancólico, e em alguns momentos será preciso pedir ajuda, não se detenha. Você irá perceber que ter com quem comemorar a queda da muralha será fascinante, só escolha as pessoas certas. E se você tiver medo, lembre-se, nem todos sabem que a muralha caiu e, ainda assim, você tem colunas bem postas, nada é mais seguro.
Ela voltou pra dentro de mim, um longo silêncio se fez. Eu ainda sentia a dor por estar com o peito aberto, mas não era mais a mesma dor, o céu agora era azul. Comecei a limpar o sangue ao redor da ferida, quando tomei noção da sua proporção comecei a costurá-la, doeu, sangrou ainda um pouco, terminei de costurá-la. Nada estava sarado, levaria tempo, havia ainda manchas do sangue escorrido, ficaria ainda uma cicatriz. Não tem problema, ela será minha lembrança viva da ferida que abriu... que foi costurada e cicatrizou.

P.S.: Não deveria publicar esse texto. 
No entanto, quem nunca teve um dia de tempestade,
não consegue, ao menos, imaginar o quanto o pôr do sol é deslumbrante.
D. Andrade