domingo, 29 de setembro de 2013

Domingo



Domingo de manhã.
Acordo cedo, mas me falta a coragem de levantar. Então, penso sobre o futuro, descubro que eu tenho a obrigação de inventar e reinventar o amanhã quantas vezes for necessário.
Estou pelo avesso.
Sonho de pálpebras abertas, canso de idealizar e me remexo nas cobertas, mas ainda me falta á coragem.
A minha cadela me olha e late.  Ela já percebeu que o dia amanheceu faz tempo, e também quer acordar.
Ignoro.
Finalmente me enfado, nada de cama, cobertas, e fantasias. Levanto. Ainda com a roupa de dormir alimento a cachorrinha, só depois começo a preparar meu café. Enquanto a água ferve, divago se estamos sozinhos no universo.
Será?
Depois ponho algumas seletas coisas no lugar, só para fingir que o meu subconsciente vai acreditar que está tudo arrumado.
Coloco para tocar Ana Carolina, quando na verdade eu queria mesmo era o silêncio.
Banho.
Ligo a televisão.
Já é Domingo à tarde.
Almoço.
Televisão.
Mudo de canal.
Crise econômica, o mundo também está pelo avesso.
Mudo de canal.
Minha banda favorita está tocando em um programa qualquer. Mas, eu nem tenho uma banda favorita.
Mudo de canal.
Um filme de comédia. Estou sem espírito de acreditar que o amor é algo engraçado e no final tudo vai ficar bem.
Mais uma mudança de canal.
Eu poderia está escrevendo.
Ou lendo aquele livro maravilhoso, mas que já estar empoeirado na prateleira.
Ou poderia começar uma revolução agora mesmo.
Ou quem sabe realizar o sonho de passar uma tarde inteira deitada.
Talvez eu devesse preparar aquela receita deliciosa que vi outro dia.
Não sei mais o que assisto.
Tenho vontade de fazer tanta coisa.
Penso em gente que me esqueceu.
Lembro-me de amizades que se foram.
Crítico o radicalismo.
Enfado-me e tento escrever poesia sem sentido para tentar aliviar esse tédio.
Não tem importância.
Afinal, amanhã é segunda feira e a vida pede o ritmo de louco corajoso novamente.
Amanhã eu vou encarar um leão bravo chamado sobrevivência.
E eu ainda vou estar entediada e solitária.
Mas, me faltará tempo para pensar nisso.

domingo, 22 de setembro de 2013

Acalma,

Acalma coração,
Chega de pressa ou indecisão.
O tempo voa nas asas da precisão.

Acalma tempestade,
O sol já se mostra ao longe.
Vai ser dia até de tarde.

Acalma paixão,
Já tu passas.
E o que ficar é o que vai ser ou não.

Acalma ansiedade,
Roer as unhas é bobagem.
As horas voam, é verdade.

Acalma futuro,
Viver é gerúndio.
E a surpresa é sempre um ar puro.

Acalma poesia,
Rimar é amar.
Inspiração é maresia.

Acalma menina,
Perigoso é ter medo.
Deixa nascer esse amor que descortina. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A aventura de viver...


Em um desses dias de sol, me peguei olhando antigas fotografias. Antigas, não pelo tempo, mas pelas mudanças. Pouco tempo se passou desde as últimas fotos, contudo há uma distância atemporal entre o passado recente e o presente fugaz.
Mudamos.
A roupa, o cabelo, o jeito de falar, a música que ouvia, o poema que lia. Mudamos. Contudo, ás vezes, continuamos a percorrer as mesmas avenidas, a entrar nas mesmas ruas sem saída e, não mudamos nada.
Viver é como dirigir. De vez em quando, é preciso parar e reabastecer. Encher o carro de combustível e se aventurar por novas estradas, novos rumos, novas pessoas. Não dá para passar o conjunto indefinidos de dias que temos neste palco imensurável dirigindo de casa para o trabalho, e só.
É assustador. E se eu me perder?
São os riscos.
Por vezes, perco-me numa nostalgia infantil, lembrando de coisas de quando era criança, as brincadeiras, os sorrisos, as histórias, os dias de chuva. Não sei... Tenho medo de que se tiver a oportunidade eu acabe voltando pra lá.
É perigoso, ficar preso ao passado.
Olhando as fotos, vi minha alma dentro de um corpo jovial, não que eu seja velha, não. Jovialidade é mais estado de espírito do que anos de vida. Como disse, não se passou muito tempo. Contudo, a mocinha da foto era diferente. Inocente. Corajosa. O tempo atemporal nos torna conhecedor e temeroso.
Eis aí uma linha tênue que deve ser considerada.
Depois de bater o carro algumas vezes, depois de inúmeros dias "perdidos" nas oficinas da vida, ficamos medrosos, queremos percorrer sempre e para sempre o mesmo caminho. Se é que queremos percorrer...
É possível percorrer sempre o caminho de casa pro trabalho e só. Não quero. Não quero porque há um mundo lá fora, há dias de chuva, há um nascer do sol pronto para ser visto, há um amor para ser amado e, principalmente, há um eu para ser vivido.
Quero parar. Sim, parar sempre que der na telha, parar no dia sol, parar na noite de lua e descansar. Descansar. Sem medo. Escrever uma poesia e deixar uma poesia me escrever.
Que você possa querer também.
E é justamente por querer que, hoje, me despeço da mocinha da foto. Ela foi uma aventura, mas já vivida. Quero outras.
Que venham novos rumos e destinos.
Sem pressa. Sem medo. Sem cobranças. Sem GPS. Sem malas pesadas. Sem hipocrisias. Sem utopias exageradas.
Com uma pitada de bom humor, leveza e sinceridade, que tenhamos boas aventuras.
Só não esqueça que se aventurar é bem mais que escalar uma montanha ou pular de um lugar alto. Ás vezes, aventura não significa altos níveis de adrenalina. Aventura é também um dia de calmaria.
Por fim, que não nos falte a coragem e a delicadeza de se aventurar em si mesmo e, nem a vontade de si aventurar em outros tantos. Afinal, essa é a aventura de viver.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Os porquês."

Nunca entendi os “porquês”.
Por que eu amo?
Amo porque simplesmente amo.
Por quê?
O amor não precisa de um “porquê”.
É isso que me confunde.

Um voo...



Chega.
Depois de me culpar, de me cobrar e insistir para que criasse um conto misterioso, cansei. Cansei de repetir para o meu subconsciente: “vamos lá, comece a trabalhar, crie um personagem que depois de gerado acabe por adquirir vida e caminhe por aí, contando as próprias histórias”.
Cansei porque os meros personagens que invento, partes de mim que quando elaboradas e construídas se desprendem e se reinventam, não conseguiriam narrar os fatos que me envolvem.
Felicidade é acima de tudo, sentir.
Não há palavras que possam externalizar a condição de euforia subjetiva em que me encontro.
A verdade é, há tipos e tipos de felicidade. A que se compra e se vende, a que ti deixa com ressaca moral, a que ti faz se olhar no espelho e se sentir maduro, aquela eufórica, a deprimente, a superficial, a dos pequenos infinitos particulares, a do sorriso de bobo, a da gargalhada e, a subjetiva.
Particularmente, a minha preferida.
Felicidade subjetiva não é uma condição, mas um estado.
É sentir-se vivo, como se um beija flor tivesse lhe roubado um beijo, ou se borboletas lhe fizessem revoadas no estômago. É não ter necessidade de se completar, mas estar completo.
E agora, diga-me! Quais palavras estariam aptas a narrar essa condição?
Não sei...
Sempre desejei ser, nem que só por um minuto, um pássaro. Sei lá, poder abrir as asas e contemplar o universo, um voo...
As poucas vezes em que estive de mãos dadas com a ventura impalpável, foi quando estive mais perto de voar.
Não há uma receita, um guia ou um manual.
É “simples”, como abrir as asas.
E, sinceramente, eu não quero narrar, não quero encontrar personagens que mintam vivenciar o que sinto.
Eu sinto e, isso me basta.
Vou resguardar toda a minha imaginação para quando estiver lá em cima, de asas abertas e com o vento por companheiro. 

Eu, você...

Eu tão certa.
Você tão cauteloso.
Eu tão séria.
Você tão menino.
Eu tão poeta.
Você tão inspiração.
Eu tão óbvia.
Você tão mistério.
Eu tão reticências.
Você tão ponto e vírgula.
Eu tão poesia.
Você tão melodia.
Eu tão apaixonada.
Você...

O amor tem dessas coisas.