Em um desses dias de sol, me
peguei olhando antigas fotografias. Antigas, não pelo tempo, mas pelas
mudanças. Pouco tempo se passou desde as últimas fotos, contudo há uma
distância atemporal entre o passado recente e o presente fugaz.
Mudamos.
A
roupa, o cabelo, o jeito de falar, a música que ouvia, o poema que lia.
Mudamos. Contudo, ás vezes, continuamos a percorrer as mesmas avenidas, a entrar
nas mesmas ruas sem saída e, não mudamos nada.
Viver
é como dirigir. De vez em quando, é preciso parar e reabastecer. Encher o carro
de combustível e se aventurar por novas estradas, novos rumos, novas pessoas.
Não dá para passar o conjunto indefinidos de dias que temos neste palco
imensurável dirigindo de casa para o trabalho, e só.
É
assustador. E se eu me perder?
São
os riscos.
Por
vezes, perco-me numa nostalgia infantil, lembrando de coisas de quando era
criança, as brincadeiras, os sorrisos, as histórias, os dias de chuva. Não
sei... Tenho medo de que se tiver a oportunidade eu acabe voltando pra lá.
É perigoso,
ficar preso ao passado.
Olhando
as fotos, vi minha alma dentro de um corpo jovial, não que eu seja velha, não.
Jovialidade é mais estado de espírito do que anos de vida. Como disse, não se
passou muito tempo. Contudo, a mocinha da foto era diferente. Inocente.
Corajosa. O tempo atemporal nos torna conhecedor e temeroso.
Eis
aí uma linha tênue que deve ser considerada.
Depois
de bater o carro algumas vezes, depois de inúmeros dias "perdidos"
nas oficinas da vida, ficamos medrosos, queremos percorrer sempre e para sempre
o mesmo caminho. Se é que queremos percorrer...
É
possível percorrer sempre o caminho de casa pro trabalho e só. Não quero. Não
quero porque há um mundo lá fora, há dias de chuva, há um nascer do sol pronto
para ser visto, há um amor para ser amado e, principalmente, há um eu para ser
vivido.
Quero
parar. Sim, parar sempre que der na telha, parar no dia sol, parar na noite de
lua e descansar. Descansar. Sem medo. Escrever uma poesia e deixar uma poesia
me escrever.
Que
você possa querer também.
E é
justamente por querer que, hoje, me despeço da mocinha da foto. Ela foi uma
aventura, mas já vivida. Quero outras.
Que venham
novos rumos e destinos.
Sem
pressa. Sem medo. Sem cobranças. Sem GPS. Sem malas pesadas. Sem hipocrisias.
Sem utopias exageradas.
Com
uma pitada de bom humor, leveza e sinceridade, que tenhamos boas aventuras.
Só
não esqueça que se aventurar é bem mais que escalar uma montanha ou pular de um
lugar alto. Ás vezes, aventura não significa altos níveis de adrenalina.
Aventura é também um dia de calmaria.
Por
fim, que não nos falte a coragem e a delicadeza de se aventurar em si mesmo e,
nem a vontade de si aventurar em outros tantos. Afinal, essa é a aventura de
viver.
Apesar de todos serem ótimos, é um todos meus preferidos. Está incrível, de verdade! saudades ;)
ResponderExcluirObrigada, Rodolfo. Fico feliz que tenha gostado. Estava com saudade dos seus comentários.' :)
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