Esses
dias eu reparei na quantidade de vezes em que digo: "Não sei". Chega a ser um
absurdo, um exagero. Volta e meia, lá estou respondendo o bendito "não sei". Eu
diria que isso, às vezes, é questão de hábito.
O
problema desse meu costume indecente é que o meu querido "não sei" não é a
resposta para uma pergunta como: Qual bolo você prefere, o de chocolate ou o
bolo mole?
A
minha eterna teimosia de pronunciar que não compreendo ou não entendo o que se
passa, é tudo uma mentira ordinária. Uma fuga repentina do mundo cruel das
indagações, uma pausa na memória, uma distração ariscada, a minha melhor forma
de explicar tudo:... "Não sei".
Pergunte-me
como eu estou, e a resposta será: bem. Vá um pouquinho mais a fundo, pois
é... já encontrou com a minha indecisão decididamente ensaiada, não é?
Por
que quando tudo é difícil demais de ser explicado, quando eu não sei se consigo
explicitar a realidade, eu digo: "não sei". Se os meus sentimentos são um tanto
confusos, ou até mesmo quando não o são, eu digo que não compreendo. Vivo
teimando em recitar meu pequeno poema particular de duas palavras: "Não sei"...
A
verdade é que minha mentira descarada é só o equipamento que, por algumas
vezes, me mantem viva. Afinal, esse tal de "não sei" sabe de tanta coisa.
O
“Não sei” sabe o por quê de as lágrimas rolarem, a razão de certos sorrisos, o
motivo de certas saudades, a causa de algumas decisões, o fundamento de tantos
abraços, o pretexto de certas mensagens, a finalidade de algumas ações, a
justificativa de alguns medos e, principalmente, a alegação desse amontoado de
sonhos.
Um "não sei" que sabe mais que uma enciclopédia gigante. Um "não sei" que diz tanto! Um "não sei" que desabafa tanto, mesmo sem dizer nada! Um suspiro particular de
alívio, porque a cada "não sei" que eu insisto em repetir, eu estou escancarando
a verdade, só que em oculto. É possível?
Por
vezes, tudo que quero é dialogar, uma tarde inteira, sobre um único "Não
sei"... Pode ser qualquer um deles. Pode ser o que eu usei para responder a
respeito de um amigo. Pode ser aquele que eu escolhi na hora de falar sobre o
amor; ou até mesmo o que eu sempre digo quando falo do futuro: "Não sei".
"Não
sei"... O (meu) "não sei". Ele sabe muito, portanto, entenda que, na maioria das vezes,
tudo que eu vou ter é uma certeza imensa da realidade, uma clareza profunda de
tudo, mas encapada com essa confusão dissimulada, e isso será o suficiente! Mas, de vez em quando, só às vezes, eu vou ter um “Não sei” pedindo para ser
descoberto.
Aí como isso tá me definindo hoje...
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