quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Nasci assim...


O meu verbo é solto pra falar mesmo é de sentimento.
Não sei criar grandes histórias cheias de dragões, princesas presas em torres, cidades em ruínas ou heróis. Todas elas me cansam a escrita, precisam ser minimamente detalhadas, detalhes que não percebo e que desconheço.
Gosto mais quando as palavras brincam como crianças descomprometidas e sem querer acabam dizendo a verdade da vida. Sim, verdades. Delicio-me principalmente com as verdades ocultas, com o que não está dito diretamente, mas indiretamente foi declarado com clareza e sutilidade.
Carrego comigo uma sensibilidade oculta, que por vezes me machuca e me despreza, mas que ama as coisas subjetivas da vida. Ama o que está por trás do que foi dito e ama ainda mais a conversação do silêncio.
Se tiver de carregar o fardo das palavras, que seja então sobre aquilo de que sou feita. Que se escreva sobre os dias de chuva, sobre as gargalhadas bem dadas... Por que não falar de decisões tomadas às pressas, de amores errantes, de cotidiano, de planos, de textos que li e de pessoas que não sei quem são, mas nunca esqueci? Por que negar que amo essa monotonia chamada vida, que sou apaixonada pelas infinitas possibilidades da alma humana? Suas certezas, suas verdades mesquinhas, seus amores eternos que duram semanas, suas paixões vulcânicas que duram uma vida, seus destinos cruzados, seus sorrisos e suas lástimas...
Nasci assim...
Amo tudo que é subjetivo. Amo mesmo, de verdade. Tudo que cruza a linha do invisível aos olhos, mas que é concreto nas medidas da alma - se é que há medida para a alma, duvido muito que exista - me fascina.
Tenho, sim, tenho sempre comigo grandes histórias, mas de pessoas que aparentemente são simples e comuns, vou contando-lhes aos poucos. Uma de cada vez, na medida em que forem sendo necessárias e exigidas. Quando não tiver uma história, terei então uma prosa ligeiramente doce, baseada em histórias supostamente comuns. Ou quem sabe fale de mim, do que carrego comigo, pode ser um medo infantil, uma necessidade urgente, uma aventura, uma descoberta, um amigo... Ou quem sabe fale da saudade, afinal é ela que tem me preenchido esses dias.
Contudo, o fato é: nasci mesmo foi pra falar de sentimento... 

2 comentários:

  1. Texto adorável, falando de uma característica adorável! Ei, grande escritora, continue a nos preencher com grandes subjetividades, como as deste texto e como aquelas que quem convive com você sabe que você amana.

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  2. É tão bom se deliciar com seus textos, que este dom se aperfeiçoe a cada dia.

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