segunda-feira, 17 de junho de 2013

O amor e as suas ironias...

Eduardo era um homem alto, branco, bonito, polido. Nasceu em uma família de classe média, portanto, não conhecia a dureza da vida; Desde pequeno os pais haviam feito de tudo por ele, no auge da adolescência ainda tentou se envolver com os perigos atraentes e astuciosos da vida, mas a mãe e o pai logo trataram de se mudar para outro lugar e de envolver o filho em um grupo social considerado “de futuro”.
Assim cresceu Eduardo, depois da escola veio faculdade. Era um rapaz de encher qualquer mãe de orgulho: educado, fino, dedicado nos estudos, cheio de graça e vigor; ele era o distintivo dourado ridiculamente exposto no peito dos pais.
Ainda na faculdade, Eduardo conheceu Anabela, moça decente, de boa família, estudiosa, amorosa com os sogros, um doce de menina. A única diferença entre ambos era que ela não havia crescido debaixo das asas dos pais, pelo contrario, Anabela conhecia o mundo com todo seu som, verso e cor. Contudo, nem mesmo isso era capaz de atrapalhar aquele amor, os dois se amavam intensamente, contavam com o apoio das duas famílias, não poderia haver sorte maior no mundo do que a dos pombinhos.
Terminando-se a faculdade, o casal prodígio conseguiu emprego, casaram-se, construíram uma casa, e o mundo era toda em cor de rosa.
Nos primeiros meses de casados tudo parecia perfeito, quando um ou outro erravam, baixavam a voz, ouvia-se um pedido de desculpas e a promessa de mudança, depois vinham os beijos e, finalmente, o “eu te amo”.
 O tempo, porém, descobri toda a vaidade da alma humana, deixa qualquer individuo nu, só permanecendo o verdadeiro. Não foi diferente com Eduardo e Anabela, tudo aquilo que antes não significava nada, agora era como um tsunami ou um furacão, só devastava. Eduardo não queria largar a mania de viver apegado e protegido pelos pais, Anabela conhecia a beleza e a dureza do mundo muito de perto para se conformar com tal atitude.
Viviam brigando e discutindo, os vizinhos, agora, ouviam gritos constantemente, não haviam mais pedidos de desculpas, o “eu te amo” havia dado lugar para o “vá para o inferno”. Os pais de Eduardo colocavam a culpa toda na mossa, repetiam pelos quatros cantos do mundo:
-Essa moça não presta, eu nunca fui com a cara dela, não sei como nosso filho pode se envolver com essa mulher.
Já os pais de Anabela pediam cautelosamente a filha para que tivessem calma, as coisas iriam se ajeitar com o passar dos dias.
O tempo passou, e o casal que, anteriormente, era o mais feliz do mundo, brigava bravamente, depois faziam as pazes, para voltar a discutir novamente. Mas, era assim que sobreviviam, em um ritmo de respiração incompreensível, mas era assim que sobreviviam, era assim que eram feliz.
Até que um dia, Eduardo e Anabela realmente brigaram, a vizinhança só ouvia os gritos, misturado as alterações de voz ouvia se também os estilhaços das coisas se quebrando. Choro, grito e estilhaço.
O motivo da briga?
Vários motivos acumulados.
Era a dependência dele da opinião dos pais, era a liberdade exagerada dela frente à vida, o trabalho dela era até tarde, ele parecia não ligar mais pra ela, ela era autoritária, ele ciumento, o guarda-roupa estava bagunçado, a pia cheia de louça.
Depois da longa briga, Eduardo sem saber o que fazer, correu para a casa dos pais, chegando lá contou tudo o que havia ocorrido, nos mínimos detalhes, contou que os pratos estraçalhavam no chão enquanto ela gritava que estava arrependida.
Os pais muito protetores aconselharam-no a deixar Anabela, diziam que ela não o merecia e que, ele ainda era jovem e iria arranjar outra pessoa, afinal ele não merecia viver o resto da vida sendo infeliz.
Eduardo não pensou duas vezes, resolveu voltar para casa e pedir o divorcio. No caminho de casa só pensava em como seria feliz quando estivesse só, não haveria mais brigas e nem gritos. Se ela estava arrependida que fosse embora e vivesse feliz, ele estava lhe dando a carta de alforria.
Ao chegar em casa, passou pelo hall de entrada, atravessou a grande sala de estar de paredes brancas, andou por toda a casa a procura de Anabela, queria encontrá-la para dar lhe a sentença de que era livre para ser feliz. Porém, Eduardo não encontrou Anabela, nem no quarto, nem no banheiro, nem na cozinha, nem no jardim, não havia o menor sinal dela pela casa. Finalmente, quando estava quase desistindo, ele encontrou um bilhete que dizia:
“Eduardo, meu grande amor, ao conhecê-lo achei que seriamos felizes, e nós fomos felizes, mas por pouco tempo. Hoje, porém, eu não o reconheço mais, não faço a menor de quem é esse homem que se deita ao meu lado todas as noites, e mesmo quando temos os nossos momentos de carinhos e deleites eu não o reconheço. Desculpe-me, mas não posso viver assim, com um desconhecido, estou indo embora, não tente me procurar, por todo o amor que diz ter por mim, apenas, me deixe ir.”
Ao terminar de ler a sua carta de alforria, Eduardo estava em choque, suava frio, não conseguia se quer entender o que havia acontecido. Como Anabela teria ido embora dessa forma? Ele a amava, como iria viver agora? Como iria sobreviver sem ela? E ele nem podia, ao menos, procurá-la!
Desnorteado com o rumo da situação, Eduardo entrou no seu carro e dirigiu até o viaduto mais próximo. Chegando ao local, desceu do carro, os automóveis atrás do seu buzinavam loucamente, os motoristas falavam todos os palavrões possíveis. Eduardo parecia estar a par da situação, só olhava para baixo, lá embaixo os carros passavam a toda velocidade em uma corrida contra o tempo.
“Como farei para sobreviver? Como irei trabalhar todos os dias? Como será quando chegar em casa a noitinha? O que direi as pessoas? Como será minha vida sem o meu Amor?”
Faltavam respostas a essas perguntas, faltava sentido para a vida. Eduardo olhou a luzes acesas da cidade, a sua escuridão noturna, os carros correndo contra o relógio, as buzinas, os motoristas, as luzes da cidade, e pela primeira vez se sentiu livre, mas essa era a liberdade mais solitária que poderia existir no mundo. Ele nem poderia contar a Anabela que a cidade, à noite, iluminada pelas luzes reluzentes, é épica. Ele não poderia. Então olhou uma última vez para a cidade que o consumia, o libertava e o afligia, respirou fundo e pulou do viaduto.
Lá embaixo, os carros parraram de correr contra o tempo, alguém tenta chamar ajuda. Lá em cima, um congestionamento enorme, buzinas soando, e pessoas atônitas pelo que viram. No chão da avenida, o que sobrou de um desconhecido da multidão e que por algum motivo não achou sentido na vida.



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