sábado, 12 de janeiro de 2013

Emma


              De frente a árvore de natal, ainda posta, olhando as pequenas luzes coloridas piscar tão orquestradas como uma sinfonia, Emma se sentia completamente entediada e nostálgica.
Ela não sabia, ao certo, o motivo. Porém, de alguma forma todo aquele clima transcendental e carregado de expectativas confeccionava no seu espirito aquela lembrança. A exata lembrança daquele momento, não, não era daquele dia, mas daquele momento especifico.

Havia pouca luz, tinham apagado os grandes refletores do parque na tentativa de que todo o público se concentrasse exclusivamente no palco, havia uma banda local tocando, no entanto, não era importante.
Nada era mais importante.
As ruas ao redor do parque foram lotadas de barraquinhas, elas eram esporadicamente simples, vendendo pelúcias e tudo o mais que se pudesse imaginar. Emma nunca acreditou que alguma delas pudesse possuir algo que lhe interessasse. Contudo, ali estava ela, ele a havia convencido de alguma forma, e em uma das últimas barraquinhas da rua, ali estavam eles.
A lâmpada própria da barraca não era assim tão forte, mas iluminava o suficiente para que Emma conseguisse ver seu rosto, ele estava sorrindo, um sorriso jovial e apaixonado, ele não era tão bonito... Espera, ele era bonito. Ou apaixonado? Ela nunca saberá.
Enquanto ela olhava cautelosamente o seu sorriso, ele procurava algo, algo no meio de toda aquela bagunça cuidadosamente arrumada. As pessoas desfilavam de um lado para o outro, todas elas tinham se vestido como se esperassem alguém extremamente importante. Ela não conseguia ver nada ao seu redor, só á barraquinha, que de alguma forma estava envolta em uma bolha estritamente delicada e colorida.
Emma sabia que aquilo não iria durar para sempre, era estranha a forma como ele a conhecia e desconhecia profundamente, ele não fazia ideia da sua paixão feroz por romances, nem que algum dia ela iria conhecer personagens tão únicas como Liesel, Melaine Stryer, ou mesmo a irreverente Lisbeth Salander.
Ela era cheia de cicatrizes, possuía um passado conturbado, planejava cursar uma faculdade, possuía enraizado em sua alma um turbilhão de princípios, músicas que ele nunca imaginou que ela ouviria, amigos que não condiziam com o que ele conhecia. Ela era agarrada com um futuro que ela determinou que teria, por isso o  seu presente não é só o presente, era os termos principais de  uma equação cujo resultado já havia sido definido.
Ele era apenas ele. E isso era o que ela mais amava. O fato de ele conhece-la não pelo que um dia ela seria, mas o que exatamente ela era, ele sabia de que forma a sua alma havia sido esculpida. O resultado da obra de esculpir ele não sabia, contudo, conhecia a essência.
Mas isso não era para sempre, e Emma sabia. E ainda assim, se permitia viver toda a fantasia completamente real.
Outro dia, eles até conversaram sobre o futuro, filhos, casamento, trabalho... Determinaram o ano de sua eterna união, como seriam felizes.
E no meio de todo aquele transe de conclusões, ele se virou e ainda sorrindo disse:                                                                                                                 
-Achei.

Ele segurava dois cordões, em um estava pendurado um pingente da letra “E”, ele pediu para que Emma colocasse em seu pescoço, para que em todos os momentos ela estivesse com ele. No outro cordão, estava o pingente com a inicial do seu nome, ele colocou no pescoço de Emma para que em todos os momentos ele estivesse com ela.

Depois olhou nos seus olhos e disse:                                                              
-Pra sempre?
Emma sorriu e verdadeiramente disse:                                                        
-Pra sempre.

Emma quase tomou um susto quando viu os primeiros fogos serem lançados ao ar, aqueles estilhaços de cores no céu, celebrando o novo ano, trouxeram-na de volta para a realidade e para o futuro.
Futuro esse que ela já havia decidido que estaria. 

2 comentários:

  1. Emma traz à tona a felicidade das memórias, que muito me lembram bolhas de sabão: extremamente belas e rápidas. Preciso nem dizer que o texto é ótimo, né?

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  2. Realmente, não precisa dizer que o texto é ótimo. É lindo, e no mínimo nostálgico. Claro que Rodolfo não poderia dar definição melhor ao que esse conto me lembra. Parabéns amiga.

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