Pela
madrugada o sono me fugiu, virei de um lado, virei de novo, e nada do sono. Os
pensamentos me bombardearam com perguntas, com interrogações, com questões que
eu não saberia responder. Perdi a calma. Afinal, nada me assusta mais do que a
sensação de que o mundo está descansando e eu estou afogada em minhas
indagações. Se eu ei de ficar acordada a noite inteira, que seja fazendo algo
que me reconforte tanto quanto um abraço.
Eu
irei escrever. Novamente meu psíquico é invadido pelas interrogações. Eu irei
escrever um conto? Ou será uma crônica? Talvez eu conte a história de duas
crianças que se conheceram por acaso? Ou será aquela que fala de um grande
amor? Nenhuma me parece interessante o suficiente. Foi quando decidi que iria
falar das lágrimas.
Eu
necessito falar das lágrimas.
As
lágrimas são diversas, embora a composição de todas elas seja igual. Todas
nascem no mesmo local, percorrem o mesmo caminho e encontram o mesmo final. O
que muda tudo é o efeito causador.
Qual
a diferença entre as lágrimas que escorem dos olhos de uma criança, que
gritando desesperadamente espera encontrar a mãe, e as lágrimas que uma mãe
derrama, incontrolavelmente, ao perder o filho?
Lágrimas
nunca são somente lágrimas.
Lágrimas
que escorrem por que alguém sentiu medo.
Lágrimas
que escorrem por que alguém sentiu saudade.
Lágrimas
que escorrem por que alguém partiu.
Lágrimas
que escorrem por que alguém machucou.
Lágrimas
que escorrem por que alguém amou.
Lágrimas...
Por
que quando todo o resto não for suficiente, ainda restarão as lágrimas. E por que quando todo o resto, simplesmente,
se encaixar e acontecer, ainda restarão às lágrimas.
Elas
são o nosso sinal de fumaça quando estamos perdidos em uma ilha qualquer, mas
também são a prova física da nossa felicidade plena. Sim, chorar de alegria.
Chorar
por que as alianças foram trocadas...
Chorar
por que o emprego é meu...
Chorar
por que alguém nasceu...
Chorar
por que sentiu a alma pular de alegria...
Chorar
por que houve um reencontro...
Chorar
por que alguém abraçou...
Chorar
por que alguém amou...
As
lágrimas são o nosso “mea culpa”.
Quantas alegrias não há por traz de uma
lágrima de contentamento? Quantos motivos não existem para que possa escorrer
uma lágrima de solidão? Quantos julgamentos não foram feitos, injustamente,
para que alguém chorasse lágrimas de isolamento?
Que
diferenças existem entre elas? O que define uma lágrima como de tristeza ou de
alegria?
Elas
têm tanto em comum. Todas expressam o que a boca não saberia pronunciar, o que
as palavras mostraram-se incapazes de proferir, o que as mãos não conseguiriam
apalpar, o que nem mesmo a música conseguiu traduzir. Então, depois de tantas
tentativas escorre uma lágrima.
Lágrimas
de dor...
Lágrimas
de alegria...
Lágrimas
de silêncio...
Lágrimas
de surpresa...
Lágrimas
que escorrem por que alguém foi incapaz de chorar...
Lágrimas
que se esvaem por que alguém mentiu...
Lágrimas
de ilusão...
Lágrimas
de surpresa...
Lágrimas
de sorrisos...
Lágrimas
de arrependimento...
Lágrimas
de perdão...
Lágrimas...
Lágrimas
que não escorrem...
Lágrimas
que não são físicas e ainda escorrem...
Lágrimas
que nunca serão lágrimas...
Lágrimas
que nunca serão explicadas...
Lágrimas
que nunca serão vistas...
Lágrimas
que só escorrem...
Lágrimas...
Não
importa o motivo, ou a classe da lágrima, tudo o que mais se deseja é que tenha
alguém para colhê-las, alguém que as faça secar.
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