De frente a árvore de natal, ainda posta,
olhando as pequenas luzes coloridas piscar tão orquestradas como uma sinfonia,
Emma se sentia completamente entediada e nostálgica.
Ela
não sabia, ao certo, o motivo. Porém, de alguma forma todo aquele clima
transcendental e carregado de expectativas confeccionava no seu espirito aquela
lembrança. A exata lembrança daquele momento, não, não era daquele dia, mas
daquele momento especifico.
Havia pouca luz, tinham apagado
os grandes refletores do parque na tentativa de que todo o público se
concentrasse exclusivamente no palco, havia uma banda local tocando, no
entanto, não era importante.
Nada era mais importante.
As ruas ao redor do parque
foram lotadas de barraquinhas, elas eram esporadicamente simples, vendendo
pelúcias e tudo o mais que se pudesse imaginar. Emma nunca acreditou que alguma
delas pudesse possuir algo que lhe interessasse. Contudo, ali estava ela, ele a
havia convencido de alguma forma, e em uma das últimas barraquinhas da rua, ali
estavam eles.
A lâmpada própria da barraca
não era assim tão forte, mas iluminava o suficiente para que Emma conseguisse
ver seu rosto, ele estava sorrindo, um sorriso jovial e apaixonado, ele não era
tão bonito... Espera, ele era bonito. Ou apaixonado? Ela nunca saberá.
Enquanto ela olhava
cautelosamente o seu sorriso, ele procurava algo, algo no meio de toda aquela
bagunça cuidadosamente arrumada. As pessoas desfilavam de um lado para o outro,
todas elas tinham se vestido como se esperassem alguém extremamente importante.
Ela não conseguia ver nada ao seu redor, só á barraquinha, que de alguma forma
estava envolta em uma bolha estritamente delicada e colorida.
Emma sabia que aquilo não iria durar
para sempre, era estranha a forma como ele a conhecia e desconhecia
profundamente, ele não fazia ideia da sua paixão feroz por romances, nem que
algum dia ela iria conhecer personagens tão únicas como Liesel, Melaine Stryer,
ou mesmo a irreverente Lisbeth Salander.
Ela era cheia de cicatrizes,
possuía um passado conturbado, planejava cursar uma faculdade, possuía
enraizado em sua alma um turbilhão de princípios, músicas que ele nunca
imaginou que ela ouviria, amigos que não condiziam com o que ele conhecia. Ela
era agarrada com um futuro que ela determinou que teria, por isso o seu presente não é só o presente, era os
termos principais de uma equação cujo
resultado já havia sido definido.
Ele era apenas ele. E isso era
o que ela mais amava. O fato de ele conhece-la não pelo que um dia ela seria,
mas o que exatamente ela era, ele sabia de que forma a sua alma havia sido
esculpida. O resultado da obra de esculpir ele não sabia, contudo, conhecia a
essência.
Mas isso não era para sempre, e
Emma sabia. E ainda assim, se permitia viver toda a fantasia completamente
real.
Outro dia, eles até conversaram
sobre o futuro, filhos, casamento, trabalho... Determinaram o ano de sua eterna
união, como seriam felizes.
E no
meio de todo aquele transe de conclusões, ele se virou e ainda sorrindo disse:
-Achei.
Ele segurava dois cordões, em
um estava pendurado um pingente da letra “E”, ele pediu para que Emma colocasse
em seu pescoço, para que em todos os momentos ela estivesse com ele. No outro
cordão, estava o pingente com a inicial do seu nome, ele colocou no pescoço de
Emma para que em todos os momentos ele estivesse com ela.
Depois
olhou nos seus olhos e disse:
-Pra
sempre?
Emma
sorriu e verdadeiramente disse:
-Pra
sempre.
Emma quase tomou um susto quando viu os
primeiros fogos serem lançados ao ar, aqueles estilhaços de cores no céu,
celebrando o novo ano, trouxeram-na de volta para a realidade e para o futuro.
Futuro esse que ela já havia decidido que
estaria.
Emma traz à tona a felicidade das memórias, que muito me lembram bolhas de sabão: extremamente belas e rápidas. Preciso nem dizer que o texto é ótimo, né?
ResponderExcluirRealmente, não precisa dizer que o texto é ótimo. É lindo, e no mínimo nostálgico. Claro que Rodolfo não poderia dar definição melhor ao que esse conto me lembra. Parabéns amiga.
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